domingo, 4 de outubro de 2009

CRIANÇAS ESPECIAIS

CRIANÇAS ESPECIAIS

Nome: Ruviane Pozzer
Profissão: Fisioterapeuta
Conceitualmente, a fisioterapia é uma ciência da saúde que estuda, previne e trata os distúrbios cinético-funcionais intercorrentes em órgãos e sistemas do corpo humano, gerados por alterações genéticas, traumas ou doenças adquiridas. Utiliza mecanismos terapêuticos próprios para o tratamento de diversas patologias, sejam elas em crianças, adultos ou idosos. O fisioterapeuta é o profissional com formação acadêmica superior, habilitado à construção do diagnóstico cinesiológico funcional, à prescrição das condutas fisioterapêuticas, ao acompanhamento da evolução do quadro clínico funcional e às condições para alta do serviço. Atua em diversas áreas da saúde, dentre elas, a neuropediatria.

Atualmente, meu contato com crianças portadoras de distúrbios neurológicos acontece na clínica onde atuo, na Escola de Natação Raia 7, onde trabalho com hidroterapia e em atendimentos no Hospital São Miguel. Trabalhei anteriormente na AMA (Associação de Amigos do Autista) de Caxias do Sul, com crianças portadoras de diversas síndromes. Fui uma das coordernadoras do Ambulatório de Doenças Respiratórias do Hospital da Criança Santo Antônio, e atuei em algumas Casas de Apoio ao Deficiente e clínicas de fisioterapia com atendimentos gerais ao paciente neurológico.

É difícil não obter resposta alguma no tratamento de uma criança deficiente. Pode acontecer, assim como em qualquer plano de tratamento, não obtermos respostas significativas no que se refere ao seu desenvolvimento psicomotor, seja por falha na estratégia ou pela própria condição da patologia da criança. Quando iniciamos um tratamento nesses pacientes, nunca sabemos o que realmente podemos esperar. Pode ser que a criança evolua rapidamente ou pode ser que demore meses ou anos para apresentar alguma melhora. No entanto, como o objetivo principal de qualquer apoio ou tratamento é possibilitar ao indivíduo uma melhor qualidade de vida dentro de suas condições e expectativas, nos empenhamos para isso, sabendo que quando atingimos qualquer avanço no desenvolvimento dessa criança e melhoramos sua interação com o mundo exterior, estamos, concomitantemente, melhorando a nossa própria qualidade de vida.

A fisioterapia se utiliza de métodos e técnicas apropriadas para restaurar, desenvolver ou manter a capacidade funcional do paciente. A reabilitação de portadores de necessidades especiais tem importante papel no desenvolvimento de habilidades funcionais, gerando independência e bem-estar. A reabilitação visa fortalecer e melhorar o desempenho dessa criança, facilitando o aprendizado daquelas destrezas e funções essenciais para sua adaptação e produtividade, diminuindo ou corrigindo alterações patológicas e promovendo a manutenção da saúde. Utiliza-se de atividades lúdicas para incrementar a função independente, melhorar o desenvolvimento e prevenir a incapacidade. Inclui-se adaptação das tarefas ou do meio ambiente para alcançar a máxima independência e melhorar a qualidade de vida.

Cada contato com uma criança especial é único, cada vivência é diferente. Cada paciente expressa-se e interage com o meio de maneiras diferentes. É difícil elencá-los. O atendimento às crianças da AMA (Associação de Amigos do Autista) foi realmente muito interessante. Não bastava aplicar os conhecimentos científicos e elaborar o plano de tratamento mais metódico e eficiente, era preciso aprender a se aproximar de cada criança, ganhar mais confiança, estabelecer vínculos iniciais, para depois iniciar a intervenção. Quando cheguei ao estabelecimento para dar início ao trabalho, as crianças mal me olhavam, não aproximavam-se, não socializavam-se...Quando saí, todos vieram me abraçar e se despedir. Essa é a maior recompensa que podemos ter.

Geralmente, a criança especial aceita muito bem o ambiente aquático, por ser um meio diferente do qual está acostumada e por sentir-se mais livre e capaz de realizar atividades que fora da água não conseguiria. Sem esforço e exercícios repetitivos, as crianças com dificuldades motoras ganham mais movimento "brincando" na água. No meio líquido, a uma temperatura de aproximadamente 300C, a criança fica mais relaxada e tem menos espasmos. Isso facilita o alongamento dos músculos retraídos. Fora da água, a musculatura das crianças com deficiência física pode se tornar muito rígida, o que os impede de fazer determinados movimentos. No meio líquido, a criança fica com seu peso reduzido e tem mais impulso. Com a hidroterapia é possível realizar movimentos até de marcha para quem tem paralisia cerebral. É na água que os movimentos começam (dentro do útero materno). Por isso é o meio ideal para que a criança possa aprender ou reaprender alguns movimentos perdidos. Mas é preciso salientar que ela não exclui a fisioterapia clássica. Na reabilitação física, a terapia na água complementa a fisioterapia.

Inicialmente, é necessário, apesar de todo o sofrimento, que as pessoas ligadas à criança especial, sejam os pais, irmãos, familiares, amigos, professores, encarem o problema de frente, procurando ajuda profissional especializada, competente, atualizada e séria na área. Uma forma interessante para encarar isso é solicitar informações, entrar em contato com outros pais para trocas de experiências ou vivências, buscando evitar a repetição de dificuldades, erros ou problemas. O que não podem e não devem fazer é fechar os olhos aos acontecimentos e deixar de procurar um tratamento ou interrompê-lo. Isso pode significar um atraso importante na evolução do paciente, até mesmo irreversível. Quanto antes procurarem ajuda, maiores serão as chances de obterem êxito no tratamento.

A criança deficiente não sabe realmente todo o drama que se vive à sua volta, mas certamente ela pressente-o. Pela doçura ou indiferença dos gestos, pela tonalidade da voz, pelo tempo, calmo ou angustiado que lhe é concedido, ela sabe perfeitamente se é acolhida ou rejeitada. A felicidade de uma criança especial não depende da gravidade da sua deficiência. Mas depende sim, daqueles que a rodeiam, pois o essencial da felicidade para ela, e como para cada um de nós, é amar e ser amado.



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